Avançar para o conteúdo principal

21 de Março - Dia Mundial da Poesia

E como hoje é dia mundial da poesia, aqui fica o meu singelo contributo...

















"O lugar mais calmo da terra"

Num campo vasto e verdejante,
Onde o vento canta em leve harmonia,
Ergue-se um carvalho adiante,
Guardião da sombra em silêncio, à hora mais tardia.

Sob seus galhos repousa um viajante,
Escape do mundo, para a mãe que dá colo.
Coberto da sombra fresca e envolvente,
Goza de refúgio, paz e consolo.

Pássaros chilreiam em notas serenas,
Trinam canções de encantos diversos.
A brisa essa, sussurra palavras esquecidas,
Diálogo profundo em corações submersos...

Naquele solo macio, a natureza é arte.
Flores silvestres adornam o chão,
Cada pétala é um detalhe à parte,
Desenhando fantasias de sentidos à emoção.

E o céu azul, de nuvens a brincar,
Reflete o remanso dum lugar encantado,
Em que o tempo cansado, mais-quereu parar,
Num ponto eterno, perpetuamente sagrado.

Folhas dançam no suave ondular do vento,
Segredando histórias ao ouvinte atento,
Murmúrios agridoces de des(alento),
Envolvendo a alma em íntimo lamento.

Ao abrigo daquele nobre carvalho,
O velho coração encontra outra vez calma,
Longe da pressa, do alvoroço e do atalho,
Abraça a paz, por fim descansando a alma.

Será este o lugar mais calmo da terra? Enfim...
É onde o espírito se faz maior, livre e pleno,
No campo onde plantaram a memória, mora agora um jardim,
De venerável placidez e um afeto sereno.

Ao entardecer, a luz pinta o horizonte... dourada,
Refletindo no campo tons de deleitosa magia.
O viajante despede-se de mais uma jornada,
Cedendo à lassidão, sonhando com nova estadia.

O rio ao lado, murmura por ora baixinho,
Seguindo o curso inexorável de ventura,
Um convite ao descanso mansinho,
Eterno canto de pura amarga doçura!

Estrelas irrompem o firmamento a cintilar,
Guiando os sonhos do adormecido...
As raízes abraçam-no sem cessar,
Num eterno laço, paciente e sentido.

E assim, a noite envolve o lugar,
Com seu manto retornado de silêncio e paz,
Onde a velha alma se vem renovar,
No campo sereno, sob o carvalho, ele jaz.

João Edgar Silva

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Afinal de contas, a forma correta é Para, Pra, Prá/Prà ou P'ra?

Certa vez perguntaram-me o porquê de eu usar a preposição "Prá" na forma como escrevo, daí nasceu a ideia para escrever este pequeno texto, ora vamos lá então... Em rigor absoluto e, à exceção da primeira acima, nenhuma das restantes grafias se encontra correta, isto é, se tivermos em conta o português padrão. Comecemos por "Pra", que nada mais é que uma forma coloquial da preposição "Para", usada até com bastante frequência em textos escritos, mas, principalmente na comunicação oral, tendo como propósito, conferir um tom mais intimista a uma conversa. E embora o seu uso não seja de todo errado, é aconselhável reproduzir a sua forma num ambiente ou canal de informação de natureza mais informal; conversa oral, mensagens com familiares, amigos, nas redes sociais, citação/transcrição de diálogos em obras de ficção, etc. Por sua vez, "Prá/Prà" e "P'ra" também já foram formas bastante usadas na língua portuguesa, antes do Acordo Ortográf...

A Ilusão do Empoderamento: OnlyFans e a Semântica da Liberdade

A sociedade contemporânea, particularmente desde há uns anos a esta parte, parece ter uma obsessão cada vez mais evidente com a linguagem do empoderamento. Vivemos na era absoluta do "eu faço o que quero com o meu corpo" transformado em mantra universal e, proclamado como suposta prova de libertação sexual e autonomia pessoal. Dentro deste panorama, plataformas como o OnlyFans surgem não apenas como ferramentas de monetização de conteúdo adulto, mas elevadas à fasquia de ícone cultural, de uma narrativa que se pretende revolucionária: a do empreendedorismo sexual feminino. Porém, esta revolução é, na sua essência, uma miragem... mera repetição de velhos padrões, com nova estética e nova retórica (certamente), mas com a mesma estrutura e mecanismos de poder e exploração associados!   A mais velha profissão do mundo (como lhe chamam) não muda apenas porque se usa uma nova maquilhagem. A prostituição tem sido uma constante antropológica, existindo sob diversas formas desde temp...

"O Parto Ficcionado do Amor Incondicional: Teatro da Ilusão"

Atualmente, habitamos um cenário onde as fronteiras entre o real e o imaginário se esbateram, deixando de estar claramente separadas, ou, até mesmo, de poderem ser defendidas através de simples lógica! Na medida em que as emoções procuram lugares de expressão e reconhecimento onde antes se encontrava a biologia, relação direta e vínculo autêntico. E é precisamente nas franjas dessa dissolução simbólica e afetiva que surgem certos fenómenos, podendo à primeira vista parecer inofensivos ou talvez somente excêntricos, mas que, analisados com lente de aumento crítica, revelam camadas profundas de solidão, sofrimento e busca desesperada por sentido! Um desses fenómenos, é o universo dos “bebés reborn” — existente há já várias décadas, mas que recentemente voltou à baila com relativa exposição —, que se desdobra em práticas como simulações de partos, festas de aniversário, e até mesmo, rotinas de cuidado totalmente investidas de afeto e “performatividade hiper-real.” Mas, o que está verdadei...